domingo, 5 de maio de 2013

Europa investe em 5G para afastar crise e liderar a indústria móvel



Tendo ficado para trás no desenvolvimento e na aplicação das redes móveis 3G e 4G, a Europa investe pesado em pesquisas acadêmicas de ponta para se tornar pioneira na quinta geração da internet móvel (5G), buscando criar um melhor ambiente para a inovação e para a indústria tecnológica no continente. Em fevereiro, durante a Mobile World Congress em Barcelona, a chefe do gabinete de assuntos digitais da Comissão Europeia, Neelie Kroes, anunciou o aporte de 50 milhões de euros (R$ 130 milhões) em projetos de pesquisa locais que, em várias escalas, buscam acelerar o desenvolvimento da banda larga móvel de altíssima velocidade. O movimento, estratégico, quer contrapor os prejuízos causados pela crise internacional com um forte investimento em novas possibilidades econômicas. A ideia é que o desenvolvimento do 5G em terras europeias leve o continente à liderança na área da internet móvel, atraindo novas empresas e gerando empregos na região. Para saber mais sobre os projetos em andamento, o Olhar Digital conversou com o chefe do gabinete de 'redes do futuro' da Comissão Europeia, o órgão responsável pela execução dos interesses dos diversos países do velho continente. 

O espanhol Luis Rodriguez-Rosello é um engenheiro de telecomunicações que trabalha na instituição desde 1989 e que, a partir de 2010, acumula também o cargo de diretor do setor responsável pela pesquisa e desenvolvimento de novas redes de comunicação. Segundo ele, o interesse europeu pelas redes de banda larga de altíssima velocidade não é novo, mas ganhou fôlego com o investimento anunciado no começo de 2013. “A Europa tem o dinheiro, a vontade e a experiência para se tornar pioneira da tecnologia 5G. De 2007 a 2013 os investimentos passaram dos 700 milhões de euros (R$ 1,8 bilhão) em projetos que investigam as futuras redes, metade desses fundos tendo sido investidos em tecnologias sem fio que contribuíram para o desenvolvimento do4G e agora do pós-4G e 5G”, afirma. Rodriguez-Rosello explica que muitas das inovações no setor são criadas em cima da estrutura em vigor, nem sempre representando uma substituição do que veio antes – daí o termo usado por ele, 'pós-4G'. “Muitas das tecnologias que serão criadas nos próximos anos serão adaptação da estrutura do próprio 4G, no sentido de criar um melhor aproveitamento de energia e da experiência do usuário”, diz. A união de vários problemas enfrentados pelos diversos projetos acadêmicos visa melhorar a estrutura vigente e assim criar a nova rede 5G, cujo prazo final de desenvolvimento dado pela Comissão Europeia é 2020. De acordo com ele, o grande intuito do aporte financeiro no 5G é unir academia e indústria em busca de um melhor ecossistema para o mercado de tecnologia europeu. “As empresas estão dispostas a mudar e se adaptar ao novo ambiente, e o 5G ajudará a forçar essa mudança na área de telecomunicações. O objetivo é colocar a Europa na liderança da indústria global”, conta. São vários os projetos financiados pela União Europeia – 5GNow, iJOIN, TROPIC, Mobile Cloud Networking, COMBO, MOTO, Phylaws -, mas Rodriguez-Rosello destaca especialmente um: METIS, um consórcio multinacional de pesquisa que busca solucionar problemas existentes na atual rede e criar uma banda larga ultrarrápida com grande capacidade. 

Bancado essencialmente pela indústria europeia – empresas como Ericsson e Deustche Telekom – o METIS promete números ambiciosos: 1000 vezes mais volume de dados por área (operadoras poderão servir muito mais usuários ao mesmo tempo); 10 a 100 vezes mais dispositivos conectados (explosão dos aparelhos inteligentes, como carros, geladeiras e sensores conectados); taxa de transferência de dados de 10 a 100 vezes maior (possibilitando uma melhor experiência de vídeo, mesmo em movimento); baterias com vida até 10 vezes maior (menor consumo na comunicação de máquina a máquina, maior autonomia e menos gasto de energia geral); e comunicação do aparelho com a fonte até 5 vezes mais rápida (melhor interação com aplicativos que consomem muita banda). O engenheiro de telecomunicações admite que países como China e Japão também dão os primeiros passos na direção do 5G, mas, segundo ele, os projetos não são do mesmo escopo daqueles financiados pela União Europeia. “Estamos na frente, aproveitando a oportunidade. A ideia é que o 5G seja liderado pela nossa indústria, que seja baseado em pesquisa europeia e que crie empregos por aqui – e estamos colocando o dinheiro onde está a nossa boca”, finaliza.

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