Tendo ficado para trás
no desenvolvimento e na aplicação das redes móveis 3G e 4G, a Europa investe
pesado em pesquisas acadêmicas de ponta para se tornar pioneira na quinta
geração da internet móvel (5G), buscando criar um melhor ambiente para a
inovação e para a indústria tecnológica no continente. Em fevereiro, durante a
Mobile World Congress em Barcelona, a chefe do gabinete de assuntos digitais da
Comissão Europeia, Neelie Kroes, anunciou o aporte de 50 milhões de euros (R$
130 milhões) em projetos de pesquisa locais que, em várias escalas, buscam
acelerar o desenvolvimento da banda larga móvel de altíssima velocidade. O
movimento, estratégico, quer contrapor os prejuízos causados pela crise
internacional com um forte investimento em novas possibilidades econômicas. A
ideia é que o desenvolvimento do 5G em terras europeias leve o continente
à liderança na área da internet móvel, atraindo novas empresas e gerando
empregos na região. Para saber mais sobre os projetos em andamento, o Olhar
Digital conversou com o chefe do gabinete de 'redes do futuro' da Comissão
Europeia, o órgão responsável pela execução dos interesses dos diversos países
do velho continente.
O espanhol Luis Rodriguez-Rosello é um engenheiro de
telecomunicações que trabalha na instituição desde 1989 e que, a partir de
2010, acumula também o cargo de diretor do setor responsável pela pesquisa e
desenvolvimento de novas redes de comunicação. Segundo ele, o interesse europeu
pelas redes de banda larga de altíssima velocidade não é novo, mas ganhou
fôlego com o investimento anunciado no começo de 2013. “A Europa tem o
dinheiro, a vontade e a experiência para se tornar pioneira da tecnologia 5G.
De 2007 a 2013 os investimentos passaram dos 700 milhões de euros (R$ 1,8
bilhão) em projetos que investigam as futuras redes, metade desses fundos tendo
sido investidos em tecnologias sem fio que contribuíram para o desenvolvimento
do4G e agora do pós-4G e 5G”, afirma. Rodriguez-Rosello explica que muitas
das inovações no setor são criadas em cima da estrutura em vigor, nem sempre
representando uma substituição do que veio antes – daí o termo usado por ele,
'pós-4G'. “Muitas das tecnologias que serão criadas nos próximos anos serão
adaptação da estrutura do próprio 4G, no sentido de criar um melhor
aproveitamento de energia e da experiência do usuário”, diz. A união de vários
problemas enfrentados pelos diversos projetos acadêmicos visa melhorar a
estrutura vigente e assim criar a nova rede 5G, cujo prazo final de
desenvolvimento dado pela Comissão Europeia é 2020. De acordo com ele, o grande
intuito do aporte financeiro no 5G é unir academia e indústria em busca de
um melhor ecossistema para o mercado de tecnologia europeu. “As empresas estão dispostas
a mudar e se adaptar ao novo ambiente, e o 5G ajudará a forçar essa
mudança na área de telecomunicações. O objetivo é colocar a Europa na liderança
da indústria global”, conta. São vários os projetos financiados pela União
Europeia – 5GNow, iJOIN, TROPIC, Mobile Cloud Networking, COMBO, MOTO, Phylaws
-, mas Rodriguez-Rosello destaca especialmente um: METIS, um consórcio
multinacional de pesquisa que busca solucionar problemas existentes na atual
rede e criar uma banda larga ultrarrápida com grande capacidade.
Bancado
essencialmente pela indústria europeia – empresas como Ericsson e Deustche
Telekom – o METIS promete números ambiciosos: 1000 vezes mais volume de dados
por área (operadoras poderão servir muito mais usuários ao mesmo tempo); 10 a
100 vezes mais dispositivos conectados (explosão dos aparelhos inteligentes,
como carros, geladeiras e sensores conectados); taxa de transferência de dados
de 10 a 100 vezes maior (possibilitando uma melhor experiência de vídeo, mesmo
em movimento); baterias com vida até 10 vezes maior (menor consumo na
comunicação de máquina a máquina, maior autonomia e menos gasto de energia
geral); e comunicação do aparelho com a fonte até 5 vezes mais rápida (melhor interação
com aplicativos que consomem muita banda). O engenheiro de telecomunicações
admite que países como China e Japão também dão os primeiros passos na direção
do 5G, mas, segundo ele, os projetos não são do mesmo escopo daqueles
financiados pela União Europeia. “Estamos na frente, aproveitando a
oportunidade. A ideia é que o 5G seja liderado pela nossa indústria, que
seja baseado em pesquisa europeia e que crie empregos por aqui – e estamos
colocando o dinheiro onde está a nossa boca”, finaliza.
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