Com o título “Pacote de
segurança: um traque no tiroteio”, eis artigo do publicitário e poeta Ricardo
Alcântara. Para ele, o conjunto de novos investimentos anunciado na semana
passada pelo governador Cid Gomes para a área da segurança pública não resolverá
o maior problema: a questão de gerência. O que a população acaba de receber do
governador Cid Gomes – mais 70 milhões de investimentos em segurança pública
como resposta aos seus anseios de paz – teve o impacto de um traque no meio de
um tiroteio: a reação foi de indiferença. Ali, se afronta os fatos ao insistir
no grave equívoco de comprar veículos de alto custo, quando o esforço já se
revelara excessivo face aos ganhos.
É tão eficaz quanto
tentar abrir uma porta pintada na parede. Vão rasgar dinheiro. De novo!
Recursos, o atual governador do Estado não se negou a gastar: foi quem mais
investiu em segurança. Logo, ao agravamento do problema, o governo ofereceu a
menos acreditada entre as respostas que a sociedade poderia dele esperar. Se os
recursos são necessários, pelos resultados obtidos mais do que provado está
que, aplicados sem suficiente competência, gastá-los é como jogar pérolas aos
porcos: eles nada saberão o que fazer com elas.
A incompetência é
perdulária. Sem um plano de abordagem, maturado com inteligência técnica e
discutido com a sociedade para com ela gerar uma sinergia cooperativa, gastar
mais 70 milhões será como entregar um punhal nas mãos de uma criança. Vem mais
sangue por aí. O recurso que neste momento tanta falta faz ao governo, a ele os
cofres públicos não pode oferecer.
É algo sobre o qual
tampouco sua bancada parlamentar poderia legislar, nem os meios de comunicação
lhe oferecer: a ele falta humildade. Humildade para, olho no olho, confessar à
sociedade o fracasso de todo o esforço e com ela estabelecer um novo pacto.
Humildade para acolher, dos governos bem sucedidos na abordagem do problema, o
relato de suas experiências. Enfim, ouvir. Incrível como algo tão simples possa
parecer constrangedor para alguém que talvez esteja – por trás de sua mal
construída persona autossuficiente – exigindo de si uma resposta complexa, que
não cabe somente a ele encontrar.
Dizem que o governo
reage mal a palpites de gente assim, “sem especialização na matéria”, mas se a
coisa desandou de vez quando tudo esteve sob o comando dos seus especialistas,
nos valeria dizer: antes nossa ignorância do que vossa erudição. Mas tampouco
dá o governo sinais de que os tem ouvido de fato: posto diante do problema, o
que há de mais eloquente na postura oficial tem sido a acefalia de sua
perplexidade muda. O governo esqueceu sua fala. Um menino teria dito mais.
Logo, a julgar pela falta de boas respostas ao desafio, não erram os cearenses
ao temer que nossos 70 milhões, a serem gastos para reforçar a corporação policial,
só irão acrescentar mais alguns zeros à esquerda do problema. É trágico. Mas
real.
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